Submersível Titan que implodiu e a Construção Sociotécnica do Risco, decisão voltada para a entrega do submarino, sem cumprir as normas de segurança, era questão de tempo para a tragédia acontecer.
O alerta foi dado:
Há 5 anos, associação disse que o submarino passaria por catástrofe, mas diretor da empresa não mudou os planos, diz jornal
Fontes: Abordagem da Segurança Proativa e G1
O Titan, o submersível que sumiu em um passeio para levar turistas aos destroços do Titanic, não foi submetido à agência de avaliação de riscos.
Mais uma tragédia, em que o alerta de especialistas não foi seguido.
Resposta do executivo: a inovação não pode ser limitada.
Stockton Rush, o diretor-executivo da OceanGate, entrou em contato com o presidente da Sociedade de Tecnologia Marinha. Na conversa, ele afirmou o seguinte:
As regulamentações limitam a inovação.
O Titan era inovador e poderia levar anos para obter a certificação das principais agências de avaliação.
Nítida a construção sociotécnica do risco, decisão voltada para a entrega do submarino, sem cumprir as normas de segurança, era questão de tempo para a tragédia acontecer.
'Existem regras por um motivo'
McCallum estava entre mais de três dúzias de líderes e especialistas do setor que assinaram uma carta de 2018 para Rush, alertando que a abordagem da OceanGate poderia levar a problemas "catastróficos".
Especialistas questionaram a segurança do Titan e como as expedições em alto mar do setor privado são regulamentadas. Preocupações foram levantadas sobre o projeto experimental do Titan e o material de fibra de carbono usado para construí-lo.
"A indústria tenta há vários anos fazer com que Stockton Rush interrompa seu programa por dois motivos", diz McCallum, que dirige sua própria empresa de expedições oceânicas, à BBC.
"Uma é que a fibra de carbono não é um material aceitável", disse ele. "A outra é que este era o único submersível no mundo fazendo trabalho comercial sem passar por certificação. Ele não foi certificado por uma agência independente."
Submersíveis podem ser certificados por organizações marítimas - por exemplo, pelo American Bureau of Shipping (ABS) ou pelo DNV (uma organização global de acreditação com sede na Noruega), entre outros.
Isso significa essencialmente que o veículo deve atender a certos padrões em aspectos como estabilidade, resistência, segurança e desempenho. Mas esse processo não é obrigatório.
Em uma postagem de blog em 2019, a empresa disse que a maneira como foi estruturada estava fora desse “sistema” mas que isso não significava que a OceanGate não atendesse “aos padrões onde eles se aplicam".
"Stockton se imaginava como um empreendedor contra o ‘sistema’", diz McCallum. "Ele gostava de pensar fora da caixa, não gostava de ser restringido por regras. Mas existem regras por um motivo - e também existem princípios sólidos de engenharia e as leis da física."
Ele afirma que ninguém deveria ter viajado no submarino Titan.
"Se você se afastar dos princípios de engenharia, todos baseados em experiências arduamente conquistadas, há um preço a pagar, e é um preço terrível", diz ele. "Portanto, nunca deve ser permitido que isso aconteça novamente. Não deveria ter sido permitido que isso acontecesse em primeiro lugar."
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Entenda como as escolhas de design e materiais do submarino podem ter causado a implosão
A empresa construiu um submarino com uma área interna mais espaçosa e com um material incomum para um submersível que viaja até grandes profundidades.
Por Associated Press
24/06/2023 06h00
O que é uma 'implosão' e o que acontece quando um submarino implode?
O submarino que implodiu a caminho dos restos do Titanic era diferente dos submersíveis convencionais que vão até águas profundas. A empresa que o construiu se recusou a submeter o projeto aos órgãos independentes que controlam os padrões de segurança do setor.
Como o acidente que terminou com cinco mortos, especialistas afirmam que por causa disso o desastre era inevitável.
A operação de busca pelo submarino acabou depois que destroços da embarcação foram encontrados –a Guarda Costeira concluiu que houve uma implosão e que as cinco pessoas lá dentro morreram.
O submarino, chamado Titan, era de propriedade da empresa OceanGate, que começou a levar turistas aos restos do Titanic em 2021.
O Titan tinha uma cabine em formato cilíndrico, relativamente espaçosa para o tamanho da embarcação, feita de fibra de carbono –geralmente, os outros submersíveis que vão até águas profundas são de titânio.
Chris Roman, um professor de oceanografia da Universidade de Rhode Island, afirma que a esfera é uma forma adequada para esse tipo de embarcação porque a pressão atinge todas as áreas com a mesma intensidade. O Titan tinha 6,7 metros de comprimento e pesava cerca de 10 toneladas.
Área interna mais espaçosa
A área interna era relativamente espaçosa, e, por isso, o submarino era mais vulnerável à pressão externa que a água exerce.
Há outras consequências de aumentar o espaço da cabine. Jasper Graham-Jones, professor associado de engenharia mecânica e marinha na Universidade de Plymouth, no Reino Unido, diz que essa mudança tem consequências na fadiga e na delaminação; entenda:
Fadiga: com o tempo, a tensão repetida em um material causa pequenas trincas na superfície. Essas pequenas trincas se propagam devagar, e esses danos vão se acumulando até que haja uma falha. Essa característica é chamada de fadiga.
Delaminação: superfícies de materiais compostos, como fibra de carbono, têm camadas ou placas. A delaminação é o processo físico pelo qual essas camadas começam a se separar umas das outras.
O casco do Titan já tinha sido submetido a pressão em outras viagens --mais de 20 foram feitas, e a cada viagem aumentam as pequenas fissuras na estrutura.
Essas fissuras podem ser pequenas e indetectáveis, mas isso se torna um problema crítico, porque em um momento elas começam a crescer de forma descontrolada, diz Graham-Jones.
Fibra de carbono
A OceanGate promovia o submarino dela justamente por ser de fibra de carbono (só uma parte era de titânio), dizendo que isso tornava a embarcação mais leve e fácil de navegar do que outros submersíveis.
A empresa também afirmava em seu site que o Titan podia chegar a uma profundidade de 4.000 metros com uma margem confortável de segurança.
No entanto, os materiais de compostos de carbono têm uma vida útil limitada quando recebem carga muito pesada ou quando há concentração de pressão em um ponto, segundo Graham-Jones.
Análise de terceiros
Havia um outro problema: o submarino nunca foi analisado por terceiros.
Um ex-funcionário chegou a afirmar isso em uma ação Justiça. David Lochridge, que foi diretor de operações marítimas da OceanGate, disse em um processo que a empresa fazia seus próprios testes, mas que esses eram insuficientes e poderiam "colocar os passageiros em perigo extremo em um submersível experimental".
Os testes ultrassônicos podem ajudar a identificar áreas no interior da estrutura em que os materiais estão se separando, disse Neal Couture, diretor executivo de uma organização chamada American Society for Nondestructive Testing.
Ele diz que os testes não destrutivos poderiam ter identificado se os materiais seriam afetados pela pressão.
A Sociedade de Tecnologia Marinha, uma organização de engenheiros e tecnólogos, também expressou preocupação a respeito do tamanho do Titan, o material de construção e o fato de que o protótipo não estava sendo examinado por terceiros.
"Tínhamos muito medo de que, sem esse processo de certificação, eles pudessem estar deixando passar algo", disse Will Kohnen, presidente da organização, na sexta-feira. Ele enviou uma carta à empresa em 2018 alertando que sua "abordagem experimental atual poderia ter resultados negativos, inclusive catastróficos, que teriam consequências graves para todos no setor".
Ele defendeu a "inspeção não destrutiva", como exames ultrassônicos, mas a empresa se recusou a fazer isso.
Em um post de blog da empresa em 2019, a OceanGate criticou o processo de certificação de terceiros como sendo demorado e um empecilho para a inovação.
"Introduzir uma entidade externa em cada inovação antes que ela seja testada no mundo real é anátema para uma inovação rápida", dizia o post.
Robert Ballard, o explorador que localizou os destroços do Titanic, em 1985, afirmou que a falta de certificação externa é uma prova do fracasso da embarcação.
Centro de Estudos e Curso Gestão de Riscos e Prevenção de Tragédias, relacionadas aos Fatores Humanos, Organizacionais, Tecnológicos, Variáveis Exógenas, Acidentes Maiores, Fatais e Graves, através da Abordagem da Segurança Proativa, mais informações, vídeos e materiais complementares, acessar os links desta postagem.
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Washington Barbosa
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